Aos 72 anos de idade, metade dos quais vividos como sacerdote, o Padre Júlio Renato Lancellotti foi condecorado na quinta-feira, dia 4, com o “Colar de Honra ao Mérito Legislativo”, a mais alta honraria concedida pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp).

Por O SÃO PAULO

.

A homenagem ao Vigário Episcopal para a Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de São Paulo foi proposta pelo advogado Ariel de Castro Alves, presidente do Grupo Tortura Nunca Mais, e o pedido foi apresentado pelo deputado estadual Luiz Fernando Teixeira (PT), primeiro secretário da Alesp, que conduziu a sessão solene, da qual participaram amigos do homenageado, entre as quais autoridades civis e religiosas e representantes da comunidade acadêmica.

.

Instituído pela Alesp em novembro de 2015, o “Colar de Honra ao Mérito Legislativo de São Paulo” é conferido “a pessoas naturais ou jurídicas, brasileiras ou estrangeiras, civis ou militares, que tenham atuado de maneira a contribuir para o desenvolvimento social, cultural e econômico de nosso Estado, como forma de prestar-lhes, pública e solenemente, uma justa homenagem”, conforme consta no artigo 1o do ato legislativo de novembro de 2019 que deu nova redação referente a esta honraria.

.

Gratidão ao homenageado

Ao longo da sessão, diferentes personalidades discursaram sobre a convivência com o Padre Júlio, recordando, especialmente, a atuação do homenageado em favor dos direitos humanos, em especial das pessoas em situação de vulnerabilidade.

.

O deputado Luiz Fernando Teixeira lembrou o trabalho do sacerdote pelas causas sociais. “É por meio das lutas do Padre Júlio que as pessoas em situação de rua não são invisíveis para sociedade. É pela coragem do Padre e pela ousadia desse homem que a violência contra as crianças e adolescentes é denunciada e que os imigrantes são acolhidos e protegidos, nosso povo alimentado, dentre tantas ações”, afirmou.

.

Ariel de Castro, proponente da homenagem, recordou muitas situações vividas ao lado do Padre Júlio, como os encontros da fase de elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e as ocasiões em que ajudaram a conter, por meio do diálogo e da oração, situações de tensão em unidades da antiga Febem, atual Fundação Casa. “Em nome de toda essa luta histórica pela infância e juventude, pelos direitos humanos, é que fazemos esta homenagem ao Padre Júlio Lancellotti”, ressaltou o advogado.

.

Padre Tarcísio Mesquita, do Secretariado Arquidiocesano de Pastoral, representou o Cardeal Scherer, Arcebispo de São Paulo, na solenidade. O Sacerdote recordou os anos de amizade com o Padre Júlio e desejou que mais pessoas, sejam elas católicas ou não, inspirem-se no testemunho de vida do Vigário Episcopal para a Pastoral do Povo da Rua, o que inclui não se intimidar com ameaças por defender a dignidade dos mais vulneráveis da sociedade.

.

“Não desfaleça Padre Júlio! Seja firme e que esse prêmio represente em sua vida o que você tem de melhor: o seu amor pelos pobres e oprimidos”, concluiu Padre Tarcísio.

.

Ao longo da sessão também foram apresentados trechos do documentário “Padre Júlio Lancellotti: fé e rebeldia”, de autoria de Paulo Pedrini, no qual se retrata a vida e as ações do Padre Júlio, que além de Vigário Episcopal para a Pastoral do Povo da Rua é Pároco da Paróquia São Miguel Arcanjo, na Região Belém.

.

Que os mais pobres sejam lembrados, defendidos e valorizados

Após ser condecorado, Padre Júlio Lancellotti discursou na tribuna da Alesp. Inicialmente, ele agradeceu a todos que, de algum modo, “fazem parte da nossa vida e da nossa luta, das nossas lagrimas e dos nossos sorrisos”.

.

O Sacerdote recordou as vezes que esteve na Alesp para mobilizações diversas, como para a aprovação do Conselho Estadual da Defesa da Pessoa Humana; na ocupação da casa legislativa pelos estudantes secundaristas e outras ocasiões em que se manifestou contra a tortura, a violência a que é submetida a população em situação de rua e em favor dos direitos humanos para todos.

.

Padre Júlio pediu que os parlamentares se engajem para que seja viabilizada a realização do Censo da População em situação de rua do Estado de São Paulo, pela aprovação de leis que garantam maior proteção social aos que vivem nas ruas e pelo fim de intervenções e arquiteturas hostis a essa população que se encontra no extremo da vulnerabilidade social.

.

“Faço estes pedidos: vamos apoiar e aprovar essa lei contra a intervenção nos espaços públicos contra os moradores de rua; vamos aprovar uma proteção social para os mais vulneráveis, que são os tem terra, que são os que estão nas periferias, os moradores de rua; vamos fazer um censo estadual da população de rua, vamos articular a defesa e proteção a esse povo que é desempregado”, ressaltou.

.

Por fim, o Vigário Episcopal para a Pastoral do Povo da Rua reafirmou seu propósito de atuação: “Nós resistimos partilhando o pão, a vida, o sofrimento e a alegria, partilhando tudo o que temos, para que os mais pobres, os mais fracos, e os esquecidos, sejam lembrados, defendidos e valorizados”, afirmou, assegurando que embora tenha recebido o colar, a honraria não pertence somente a ele: “Esse colar, amanhã, estará nas carroças dos catadores, vou leva-lo para os moradores de rua lá na Comunidade São Martinho no café da manhã, e dizer para eles: ‘é de vocês! Vocês tem que ser reconhecidos. Lutem, resistam, tenha força e tenham coragem sempre”.

.